
13 de outubro 2016
Nota de Repúdio do SISMAR à volta do primeiro-damismo
O SISMAR vem a público reforçar seu compromisso com a igualdade de gênero e repudiar veementemente o machismo e o patriarcalismo que se mostraram escancaradamente na atitude do presidente Michel Temer ao conduzir sua esposa, Marcela, como primeira-dama, à condição de embaixadora voluntária do Programa Criança Feliz, enquanto seu ministério continua só com homens brancos e velhos.
Nas entrelinhas (ou nem tanto), o novo governo passa diversas mensagens que diminuem o papel da mulher na sociedade. Como bem escreveu o Conselho Regional de Assistência Social, “essa imagem [de bela recatada e do lar] reforça estereótipos machistas e conservadores, que repudiamos veementemente, pois projeta a mulher para a vida pública, de maneira subalternizada e também, na esfera privada, a reduz como mera cuidadora do lar, inclusive negando-lhe direitos sociais e humanos”.
Por isso, reproduzimos abaixo, trechos de documentos publicados pelos Conselhos Federal e Regional do Serviço Social, contra o retorno do que está sendo chamado de primeiro-damismo.
“As políticas sociais e principalmente a Política de Assistência Social, por parte do poder público, são um meio de reprodução da histórica ideologia conservadora que cotidianamente valoriza a compreensão de que a pobreza que atinge milhões de trabalhadores/as na sociedade brasileira deve ser tratada pelo binômio da benevolência e da criminalização. Tratando-se da Política de Assistência Social, geralmente a compreensão é orientada pelo moralismo, ou seja, a caridade e o favor aos mais empobrecidos e necessitados.
Nesse sentido, não é por acaso que tais práticas sejam desempenhadas por “figuras de exemplos”, ou seja, as primeiras-damas, mulheres casadas com prefeitos, governadores e presidentes da república, como é o caso recente de Marcela Temer, esposa do atual presidente da República, cuja imagem tem sido caracterizada como “bela recatada e do lar”.
Essa imagem reforça estereótipos machistas e conservadores, que repudiamos veementemente, pois projeta a mulher para a vida pública, de maneira subalternizada e também, na esfera privada, a reduz como mera cuidadora do lar, inclusive negando-lhe direitos sociais e humanos. Nossa defesa é por uma sociedade em que a equidade dos direitos sociais e humanos sejam garantidos e efetivados independente de identidade de gênero, orientação sexual, etnia, geração e divisão de classe.”
“Historicamente, tem sido evidenciado que a chamada boa vontade é não apenas insuficiente para intervir no conjunto de desigualdades de classe, gênero, raça, entre outras, mas, sobretudo, um elemento estratégico no campo conservador dirigido ao disciplinamento da força de trabalho e o arrefecimento de sua rebeldia. Conceber e implementar direitos sociais exige trabalhadores/as qualificados/as e com condições adequadas de trabalho! E nós, assistentes sociais, somos parte desses/as importantes trabalhadores/as da assistência.
Assistentes sociais têm contribuído nas lutas em defesa de diferentes direitos sociais, bem como na construção e execução de políticas sociais, a exemplo da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). A nossa qualificação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa nos permite desvendar criticamente a realidade e, com isso, propor uma intervenção crítica e criativa sintonizada com as demandas da população usuária. Isso é absolutamente o oposto de práticas regidas pela boa vontade e pela caridade, e diferencia ações individuais, assistemáticas e emergenciais de ações pautadas na lógica do direito social!”