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18 de maio 2016

Vigilâncias em Saúde e UMED continuam no prédio do PS do Melhado

Câmara rejeitou projeto de venda por 11 a seis; bravo com comentários contrários, Prefeito chegou a derrubar o microfone da Câmara Municipal com um tapa na bancada

 

A tentativa do governo municipal de Araraquara de vender um prédio público para supostamente pagar dívidas trabalhistas da extinta Companhia Tróleibus de Araraquara (CTA) deu errado. Apesar de o argumento de que o dinheiro da venda seria usado para pagamento das indenizações aos funcionários demitidos durante o processo de privatização, não havia menção à CTA nem no texto do projeto nem em sua justificativa. A base de apoio do prefeito Marcelo Barbieri na Câmara Municipal rachou e, pela primeira vez nesse governo, a oposição derrotou o projeto do governo por 11 votos a seis na noite de ontem.

O prédio em questão é o do antigo Pronto Socorro do bairro Melhado, que hoje abriga as Vigilâncias em Saúde do Município e a UMED (unidade de apoio diagnóstico). Os mais de 200 servidores que trabalham no prédio, muitos dos quais colocaram dinheiro do próprio bolso e fizeram esforço pessoal em sua reforma para abrigá-los, se manifestaram contra a venda.

Ainda na tarde de ontem, antes da sessão da Câmara, Barbieri já sabia que não tinha os votos necessários para aprovação do projeto de venda do prédio e resolveu investir todas as forças para pressionar o legislativo. As estratégias foram lamentáveis. José Carlos Porsani, vereador pelo PSDB (base do governo), afirmou durante a sessão que Barbieri tentou intimidá-lo a votar favorável ao projeto ameaçando exonerar seus indicados para cargos no governo. Os trabalhadores demitidos da CTA também foram usados por Barbieri para tentar pressionar os vereadores. Ele os convenceu de que a venda daquele prédio específico seria o único meio de a Prefeitura conseguir dinheiro para pagá-los e sugeriu que eles fossem à sessão pressionar os vereadores. Jogou trabalhador contra trabalhador, o que quase motivou brigas mais sérias no plenário. Não funcionou.

Mas Barbieri não se deu por vencido e foi até a Câmara defender pessoalmente o projeto. A sessão foi interrompida para que o prefeito pudesse ser ouvido. Mas, novamente a estratégia deu errado. Visivelmente nervoso, Barbieri perdeu o controle várias vezes, deu tapa na bancada e chegou a derrubar o microfone ao ser acusado por uma manifestante do PSol de ter favorecido a bancarrota da CTA. Aos berros, chamou o dirigente sindical Marcelo Roldan de covarde e ouviu o que não queria: “Eu estou na Prefeitura, vou ficar aqui e você vai sair”, gritou Roldan.

Antes do prefeito, o presidente do SISMAR, Marcos Zambone e Roldan utilizaram a Tribuna Popular para explicar aos vereadores e aos trabalhadores da CTA e das Vigilâncias que lotavam o plenário a posição do Sindicato. “Somos contra a venda por um motivo simples: a situação financeira complicada da Prefeitura é culpa da má gestão desse governo e dos anteriores e passou também pela Câmara em vários projetos que trouxeram mais dívidas. E nós, do SISMAR avisamos isso muitas vezes muitos anos atrás”, disse Zambone. “Os servidores das Vigilâncias já foram jogados de um lado para outro sempre e condições precárias de trabalho ao longo da última década. Agora que eles conseguiram com muita luta um lugar adequado, reformado e pintado pelos próprios trabalhadores, o prefeito quer transferí-los? Os servidores que foram transferidos para a “supersecretaria” no CEAR há mais de um ano, local para onde querem mandar também a Vigilância, estão instalados em péssimas condições, com pombos, chuva, calor e barulho. Não acreditamos que com as Vigilâncias será diferente”, afirma Roldan.

O SISMAR comemorou a vitória, mas sabe que o prefeito não vai desistir de vender aquele prédio. “Existem outros interesses nessa venda que não são o pagamento das indenizações dos funcionários da CTA. Para esse pagamento, a Prefeitura poderia vender terrenos ou outros prédios abandonados. Por isso, vamos manter a mobilização dos trabalhadores das Vigilâncias”, explica Zambone.

 

O prédio

 

Os trabalhadores das Vigilâncias em Saúde conseguiram se instalar nesse prédio do antigo PS do Melhado depois de muita briga e negociação com mediação do Ministério do Trabalho, por causa das péssimas condições de trabalham às quais eram submetidos diariamente nas instalações anteriores, uma casa alugada. Eram mais de 200 pessoas usando os banheiros e cômodos que foram projetados para apenas uma família.

Na época, começo de 2015, o prédio estava vazio. Após vencerem a resistência da Administração com grande apoio do Ministério do Trabalho, os próprios servidores reformaram e pintaram partes do prédio para acomodá-los adequadamente. Uma sala para acondicionamento de vacinas a serem distribuídas para todos os Postos de Saúde da cidade foi preparada e outras mudanças feitas.

Com tudo aprontado pelos trabalhadores, a Prefeitura foi lá e fez uma inauguração do local com pompas e cerimônias, presença de vereadores, do prefeito e assessores. Segundo matéria do site oficial da Prefeitura, na época “o prédio passou por obras e adaptações, incluindo pintura, executadas pelos funcionários municipais, fato que rendeu elogios do prefeito Marcelo e de outras autoridades da Saúde. “Esse espaço abrigará melhor os servidores das Vigilâncias”, destacou [Barbieri]”.

Ainda de acordo com o texto oficial publicado em fevereiro de 2015, “a transferência para o novo local possibilitará uma economia mensal de até R$ 15 mil em aluguéis pagos pela Prefeitura”. Atualizado, esse valor está perto dos R$ 250 mil economizados com a mudança que só ocorreu por insistência (muita) dos servidores e do SISMAR.

“Por isso, os trabalhadores que hoje tem seu posto de trabalho ali não aceitarão mudanças nem promessas de lugar melhor”, alerta Roldan.

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